Maria Beatriz Nogueira: O sangue é arte, o ADN é palco

Escrito por

Catarina Correia Martins
5 Novembro 2020

Maria Beatriz Nogueira é artista. Talvez uns a considerem mais atriz, mas para o Populus é artista. Gosta de dançar, de cantar e de representar e, por isso, é no teatro musical que encontra a sua praia. Mas como viver da Cultura em Portugal não é tarefa fácil, vai procurando alternativas… E encontra-as!

O primeiro contacto com a arte

Foi por volta dos quatro anos que a mãe a inscreveu no ballet. Confessa que, naquela idade, «não gostava assim tanto de dançar», mas este foi o seu primeiro grande encontro com as artes. Maria Beatriz Nogueira admite que só, talvez, aos 15 anos tenha começado verdadeiramente a gostar de ballet. Porém, por essa altura, mudou de escola e «tinha curiosidade em experimentar uma área artística completamente diferente» daquilo que já conhecia. Foi aí que surgiu a oportunidade de integrar o grupo de teatro.

O tempo foi correndo e com a entrada na Universidade, Maria Beatriz Nogueira pôde experimentar novas vivências: «Experimentei um mês e pouco a tuna, mas não foi bem a minha onda», lembra, acrescentando que parou o teatro e que, já durante o mestrado, teve aulas de canto lírico. «Fui saltitando todos os universos artísticos», «são todos muito diferentes, mas complementam-se no teatro musical e é por isso que eu gosto tanto», revela.

O seu ADN é mesmo o palco

Licenciada e Mestre em Estudos Artísticos, foi na internet que encontrou o passaporte para fazer aquilo de que gosta. «Vi uma publicação de um grupo de Montemor-o-Velho, que estava a precisar de uma assistente para atriz, para a peça A Menina do Mar. Inscrevi-me e quem estava diretamente ligado a essa companhia era um dos meus professores. Deu-me como referência à companhia e eu entrei», conta.

Faz parte da companhia ADN de Palco há cerca de um ano e meio. «Criamos e produzimos espetáculos para crianças e jovens, a pensar nos adultos. Os nossos espetáculos são todos com base no teatro musical», começa por explicar. «Em cena» têm quatro espetáculos, O Principezinho, Pluft, O Fantasminha, A Menina do Mar e Alice, o Musical, mas com a pandemia tudo está parado. Maria Beatriz Nogueira afirma que «é uma experiência que tem ainda pouco tempo», mas diz-se certa de que é possível «ultrapassar todos os obstáculos»: «Não temos outra forma se não adaptarmo-nos a estes moldes que a pandemia veio trazer», considera.

Planeiam avançar, a 7 de novembro, com uma nova vertente da companhia, o serviço educativo, com aulas de teatro, canto e dança, mas Maria Beatriz Nogueira está consciente de que pode não acontecer: «Temos os pés bem assentes na terra, não sabemos se isto avança ou não. Fizemos um ótimo trabalho para chegar até aqui, agora já não depende de nós, mas não podemos deixar nem as artes, nem a cultura, morrer. E este projeto foi uma forma de nos segurarmos bem firmes, deste lado», afirma. Esta é a primeira vez que a ADN de Palco avança com um serviço deste género, que pretende servir duas populações: a de Santo Varão em Montemor-o-Velho, e a de Cernache, em Coimbra, onde têm outro pólo.

A instabilidade da profissão

Em tempos achou que o seu percurso poderia passar pelo Jornalismo e Comunicação, porém hoje sabe que este é o seu «mundo». Reconhece no entanto que não a espera um futuro fácil: «Hoje em dia, fazer a vida só de artes é complicado porque para assegurarmos um vencimento razoável ao final do mês, temos que andar a fazer vários biscates e não é fácil», refere. «Se não tivermos um plano B, não conseguimos assegurar-nos. Não temos tido espetáculos, se não fizesse mais nada na minha vida, não teria dinheiro nenhum na minha conta, neste momento», acrescenta.

Esta instabilidade é algo que assusta «um bocadinho», confessa, todavia não a demove: «As artes não são uma coisa que me apeteça largar. São algo a que vou estar sempre ligada, e que me dá muito prazer fazer, independentemente de ganhar financeiramente com isso ou não», afirma.

O seu plano B são as aulas de teatro que leciona em escolas primárias. «Eu gosto de dar aulas, é uma das coisas que mais me dá gosto na vida, porque é um trabalho que nunca está acabado», salienta. Enquanto professora, sente-se «muito responsável» pelo que ensina e tenta transmitir aos seus alunos que «antes de se ser ator, somos humanos». «Quero que sejam humanos dentro da sala de aulas, que sejam amigos, que tenham espírito de equipa, que saibam trabalhar e cooperar uns com os outros e só depois é que vem a aprendizagem do teatro e das ferramentas que procuro transmitir-lhes», frisa.

O plano para amanhã

Para o futuro mais imediatos, não faz planos muito ambiciosos: «Tenciono continuar na companhia ADN de Palco; se o serviço educativo não avançar agora, quero que avance daqui a uns tempos quando as coisas estiverem no seu estado normal; tenciono continuar a dar aulas de teatro…», revela.

Mais à frente, «gostava muito, se a vida o permitir» de trabalhar na sua área de formação, nomeadamente «na parte de programação cultural e na produção de espetáculos». Para cumprir esta ambição, conta com a experiência adquirida na companhia: «Tem-me permitido desenvolver as minhas capacidades, mais na produção de espetáculos, o que é ótimo. Tenho feito muitas coisas dentro da ADN, que me permitem descobrir outras capacidades que eu pensava que nem sequer existiam. Acho que isso vai ser muito bom para o meu futuro, caso a minha vida tome outro rumo», conclui.

Deixe aqui a sua mensagem

Outros posts

Joana Cunha: O bom e o mau da maternidade

Joana Cunha: O bom e o mau da maternidade

Foi no início de maio que “A Mãe Joana” viu a luz do dia. Os textos que retratam a experiência da maternidade de Joana Cunha chegaram finalmente ao público, depois de cinco anos guardados na gaveta.

Elsa Lopes: Viver com lúpus

Elsa Lopes: Viver com lúpus

Elsa Lopes tem 34 anos e há cinco descobriu que tem lúpus, uma doença crónica que lhe mudou as rotinas e o aspeto físico. Hoje, diz-se uma mulher «feliz, dentro das limitações».