Luís Alves, 33 anos, «apaixonado por viaturas automobilísticas», vive na Serra do Caramulo e desde o berço que lhe foi incutida a paixão pelo mundo automóvel. A história desta semana começa nos carrinhos de rolamentos, onde «tem cerca de 100 troféus», até à experiência como co-piloto.
Origens
Foi com a mítica Rampa do Caramulo que Luís Alves sentiu o primeiro cheiro a gasolina e borracha queimada por um asfalto cheio de história. Nascido na pequena vila do interior sempre teve contacto próximo com o Museu do Caramulo – com uma coleção de viaturas rara em Portugal – e com os eventos que na serra se organizavam. Tudo começou no berço: «A minha mãe conta-me que, dias depois de ter nascido, me levou a ver uma Rampa do Caramulo. Fui ao colo, literalmente. Mais tarde, o meu pai começou a levar-me a alguns rallys. Nessa altura, passava ainda aqui o antigo Rally Dão-Lafões, nos anos 98/99, e desde aí começou a paixão».
Durante 10 anos participou em provas de carrinhos de rolamentos onde alcançou «cerca de 100 prémios». Ele e a mãe, Georgina Alves, que também participou em algumas provas no setor feminino, têm em conjunto quase 200 troféus em casa. Confessa que gostaria de ter prosseguido mas reitera que, em Portugal, «é muito difícil conseguir apoios que permitam uma vida profissional como piloto».
O Caramulo como o centro de paixão automóvel
Desde 2006 que, ininterruptamente, acompanha o Caramulo MotorFestival, um dos maiores eventos motorizados do país que, à exceção do presente ano que se irá realizar de 2 a 4 de outubro, tem presença marcada para o primeiro fim de semana de setembro. Um evento completo que junta todo o tipo de motores, aptos a mostrarem o que valem ao longo da pista, sejam eles de automóveis, camiões, motos ou aviões.
«Houve anos em que o Caramulo recebia ou organizava três provas por ano que traziam pessoas e amantes dos automóveis: o Espírito do Caramulo, a Rampa do Caramulo, que está inserida no Campeonato Nacional de Montanha e, por fim, o Caramulo MotorFestival. Foi pena terem deixado de fazer, mais tarde, o Espírito do Caramulo que era um evento mais pequeno mas com qualidade».
Em ano de pandemia resta ver, na pequena vila, o Caramulo MotorFestival uma vez que a Rampa do Caramulo foi cancelada: «Uma profunda facada no coração», confessa. Contudo, para uma região do interior e «muitas vezes esquecida» os eventos são uma mais-valia para todos «desde comerciantes às próprias pessoas que querem ver coisas que nunca tiveram a oportunidade de ver. Há carros únicos que só aqui, nestes eventos, aparecem».
Portugal e o desporto Motorizado em tempos de pandemia
O nosso convidado não duvida que Portugal é um dos melhores países com poder organizativo e justifica: «Não é por acaso que recebemos as melhores provas do Europeu de Rally, Campeonato Mundial de Motocross, o Mundial de F1, o MotoGP… Portugal tem cá e recebe muitos dos principais eventos do desporto motorizado. O que é facto é que não nos podemos queixar da qualidade e quantidade de eventos».
Com a atual situação epidémica em Portugal, Luís Alves diz estar contente com as medidas adotadas até porque existem agora «corridas mais pequenas» mas que aglomeram um maior número de pilotos, com toda a segurança, o que se torna «mais apelativo por ter mais diversidade de pilotos o que faz com que tenham muita qualidade».
Ao ser um desporto ao ar livre considera que é mais seguro para adeptos irem assistir às corridas do que outros eventos em recintos fechados : «Existem comissários de pista que controlam o aglomerado de pessoas, mas parte de nós saber respeitar as regras impostas e ter sempre em mente todos os cuidados, principalmente nas provas a Norte, onde as pessoas são mais fervorosas no seu apoio. Não desdenhando do sul, claro, mas, aqui, é diferente». E segue com um exemplo: «Ainda há pouco tempo, no Rally de Mesão Frio, houve um piloto que saiu de pista e ficou numa posição complicada. Eu e o meu grupo de amigos corremos em direção ao carro e ajudamos o piloto a empurrar o carro 200 metros até uma zona de segurança. Existe uma proximidade muito boa. As pessoas estão todas para o mesmo: assistir a um bom espetáculo independentemente de quem apoiem. É uma festa comum».
A fotografia como complemento
Criou uma marca: Pick Prego a Fundo. Tem uma página do Facebook onde expõe todas as suas fotografias, uma paixão «antiga», relacionadas, quase na sua totalidade, com os eventos automobilísticos. «A fotografia já era uma paixão que vinha desde miúdo. Eu gostava muito de desenhar mas como não consegui seguir nessa área comecei a interessar-me pelas fotos. Sempre gostei de arte visual. Participei num Clube de Fotografia o que me permitiu aprender mais e o gosto foi aumentando», conta.
A primeira máquina profissional só chegou em 2015, depois de algum tempo de trabalho. Com a partilha de fotografias e a identificação dos pilotos, a página começou a ter visibilidade o que permitiu uma maior aproximação entre Luís e o desporto automóvel: «O que é facto é que as fotos começaram a chegar longe. Existiram eventos que eu acompanhava onde tirava fotos e que depois de partilhadas começaram a ser vistas e usadas em páginas da área, até no estrangeiro. Algumas podem não ter a maior qualidade mas tenho muitas que registam o momento da forma que queremos vê-lo e isso é o mais importante».
Um concurso ganho… uma experiência como co-piloto
Sempre teve o sonho de um dia se sentar e experienciar a sensação de andar num automóvel preparado para uma competição. Depois de participar num concurso e de ter ganho o sonho foi realizado. Uma experiência que admite querer voltar a ter: «Quando o responsável do Rally Spirit, o Pedro Ortigão, me contactou a dizer que tinha ganho fiquei surpreendido. Já era tarde, foi depois da especial noturna, e nunca pensei ser um dos vencedores. Senti-me com muita adrenalina e realizado. Mais surpreendido fiquei quando me deram para a mão o fato de corrida do Luís Ramalho, um co-piloto bastante importante, para vestir. Foi uma experiência que destaco como única. A sensação do carro ao arrancar é inexplicável. Sentes uma pressão e adrenalina muito boa. E depois a velocidade, o poder de aceleração… tudo foi ótimo. Andei numa viatura de 1 milhão e 600 mil euros com muito poder. Quem sabe se um dia não serei eu a conduzir depois de ganhar num próximo concurso», termina.