Cátia Cardoso: Uma história de paixões

Escrito por

Catarina Correia Martins
30 Janeiro 2020

Do alto dos seus 22 anos, Cátia Cardoso é autora de Poesia Silenciosa, uma coletânea poética que publicou com apenas 17 anos, e de Linhas Delicadas, o seu primeiro livro de prosa, publicado em 2016. No currículo conta também com a co-autoria de uma peça de teatro, Duas a Bordo, escreve regularmente num blog seu a que chamou Hoje vou embargar a esquizofrenia, e ainda inúmeros textos, crónicas, e poemas avulsos, além das notícias que a profissão lhe obriga a escrever. No fim de tudo isto, Cátia Cardoso diz que não se sente escritora: «Não posso dizer que não sou autora, mas não me consigo sentir escritora», afirma. Inicialmente achava que era porque apenas tinha publicado poesia e que isso fazia dela poetisa, no entanto, depois de publicar uma obra em prosa, o sentimento manteve-se: «A verdade é que nada mudou. Não sei o que me falta mas talvez seja pelo facto de eu sentir que ainda não tenho uma obra publicada que me deixe plenamente satisfeita. Sinto que ainda não atingi os objetivos mínimos de um escritor e, neste caso, esses objetivos são propostos por mim», explica.

Natural de Arouca, Cátia Cardoso sempre foi uma apaixonada pelas artes e, entre elas, sempre se destacaram duas com um lugar especial no seu coração: a representação e a escrita. «Queria ser atriz porque gostava de falar», porém percebeu que a representação podia limitá-la e “inclinou-se” para o Jornalismo. Foi na licenciatura de Comunicação Social que descobriu o vasto mundo do cinema. «Fugi à arte, fugi ao teatro, fui para Comunicação Social e o que aconteceu? Apaixonei-me pela sétima arte. Pensei: “Afinal eu fugi da arte, mas a arte não me fugiu a mim”», frisa. Hoje frequenta o mestrado em Cinema e trabalha como jornalista. Será isto o melhor dos seus dois mundos? «Gosto de comunicar, quero comunicar e desde que trabalhe nessa área tenho a certeza que vou ser uma pessoa concretizada. Desde que esteja no ramo da comunicação, preferencialmente com cultura à mistura… Gosto cada vez mais de cultura e das questões que esta levanta. Em termos utópicos, seria muito feliz como diretora de comunicação e cultura», conta.

No centro de tudo a escrita

Talvez a escrita seja o elo de ligação em todos estes gostos de Cátia Cardoso. A escrita, presente em todos os momentos da nossa vida sem darmos por ela, faz parte do imaginário e da vida real desta arouquense. «Já na escola primária», aquilo de que mais gostava «eram as composições»: «Queria escrever uma composição todos os dias e não percebia porque é que as outras crianças não gostavam».

Foi pouco antes de entrar na adolescência que a “escrita de escola” deixou de lhe chegar e começou a sentir necessidade de escrever noutros momentos e contextos. «Curiosamente comecei logo a escrever poesia, uma poesia sempre rimada. Escrevia também alguns textos, pequenas reflexões…», avança.

Aos 17 anos, Cátia Cardoso teve a possibilidade de publicar o seu livro de poesia e, nessa altura, defendia que era «uma espécie de voz interior» que a impelia a escrever: «Não sei quando, nem em que contextos, sei que, de facto, há dias que começo a ter palavras na minha cabeça, elas começam a encaixar-se e eu tenho de ir escrever», conta. Todavia, hoje, mais madura e ponderada, refuta «um bocadinho essa forma de estar perante a poesia» e atribui essa postura às disciplinas de guionismo que foi tendo. «Compreendi que é possível escrevermos com mais exigências e que devemos trabalhar a escrita. Hoje, já trabalho mais os poemas, às vezes trabalho tanto que entendo, depois, que não têm viabilidade e queimo a folha. Sou muito mais exigente com a minha escrita e, também por isso, não publico nada desde 2016. Esta é uma fase de aprender a trabalhar as palavras», revela.

E outra vez as paixões…

Já percebemos que a Cátia é uma mulher de paixões. E os locais por onde passa têm sido também alvo delas. Tudo começou em Arouca: «Passei todos os verões da minha infância entre o rio Paiva e a Serra da Freita, que tem paisagens que considero únicas. Hoje, quando olho para trás, [as melhores memórias que tenho] são mesmo desse lado da natureza, da inspiração, da tranquilidade e da felicidade. Quando volto [agora mora em São João da Madeira], acho que consigo sentir isso de uma forma mais intensa», começa por revelar. De seguida, apaixonou-se por Coimbra, a cidade onde estudou na licenciatura. «Acredito que a poesia de Coimbra é um bocadinho diferente porque há todo um espírito académico que eu sei que não iria encontrar noutra cidade», acrescenta. Hoje, em cada regresso a Coimbra, diz sentir-se invadida por «um nervoso miudinho»: «Sinto que ainda está lá uma parte especial de mim, que de nenhuma forma conseguirei recuperar. Estou lá. Se me perguntarem se isso acontece pela vida académica, por ser a “cidade dos amores” ou por toda a poesia que lá encontrei, não sei…».

Quando entrou no mestrado na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, também essa cidade não lhe passou ao lado. «Curiosamente, em vários aspetos, Covilhã e Coimbra aproximam-se: ambas são cidades que vivem muito dos e por causa dos estudantes. Não vivi a academia da Covilhã, por estar em mestrado e, talvez, por querer guardar a de Coimbra de forma mais especial», conta. Daqui em diante, as paixões continuarão a surgir por todos os locais por onde passar já que, admite, se apaixona «claramente por sítios».

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