Ana Queirós nasceu numa família católica e, desde cedo, as práticas religiosas fizeram parte da sua vida. Frequentou a catequese, pertencia ao grupo coral da sua paróquia e considera ter sido «sempre um membro muito ativo». Porém foi por volta dos 18 anos que descobriu verdadeiramente o amor de Deus, o que marcou um «ponto de viragem» na sua vida, afirma.
Natural de uma aldeia no concelho de Cantanhede, Ana Queirós fez um percurso natural, semelhante ao de todas as crianças que nascem no seio de uma família católica. Envolvida em várias atividades da paróquia, a sua relação com Deus sempre existiu, no entanto hoje afirma que existe uma Ana «antes e depois de ter descoberto o Seu amor». O clique deu-se durante um fim-de-semana de um curso Alpha, «um curso de primeira evangelização», como o descreve. «A meio desse curso, temos um fim de semana [de retiro] em que somos convidados a entender melhor o Espírito Santo e a sua presença na nossa vida», explica. Ali, entendeu que o Senhor que lhe tinham apresentado na catequese, «o Deus do temor, do não faças asneira se não Deus castiga», era afinal o Deus-amor «que apesar das coisas mal que possas fazer, continua a amar-te». «Perceber que Ele me ama mudou a minha vida», recorda. Naquilo que é, ainda hoje, a sua realidade, afirma que esse amor faz de si uma pessoa melhor: «Sei que nunca estou sozinha e apesar de não ser perfeita, tento sê-lo no meu dia-a-dia, no meu caminho de fé».
Hoje, o Alpha é mais do que uma memória. Licenciada em Engenharia Química, deixou o trabalho na sua área de formação para passar a trabalhar no Alpha Portugal enquanto coordenadora nacional Alpha Jovens e Universitários, depois de vários anos enquanto voluntária na organização. O seu dia-a-dia passa por ajudar jovens cristãos, não apenas católicos, a trabalhar com esta «ferramenta» e a implementá-la na sua paróquia. «O Alpha não é um movimento, como tantos outros que pertencem à Igreja, é antes uma ferramenta que está ao seu dispor», releva.
O jovens na Igreja
Ana acredita que os jovens não estão afastados da Igreja, mas sim que a Igreja não está preparada para os acolher. Sobretudo «no norte e no interior do país, a fé ainda é vivida de uma forma muito intensa», algo que não se verifica tanto em áreas mais metropolitanas e cidades maiores. Porém, Ana Queirós afirma que há muitos jovens com «vontade de fazer coisas», no entanto nem sempre a Igreja tem a abertura necessária para os aceitar dessa forma. «Ainda temos muitos “velhos do restelo” que fazem um trabalho extraordinário, mas que depois não sabem lidar com esta nova forma de estar na vida que os jovens têm. Por outro lado, os padres – alguns, não todos – acham que a participação dos jovens se deve resumir apenas à missa da catequese em que participam, ou num momento especial em que os querem ver presentes, mas nada mais além disso, porque lêem mal, porque fazem barulho… Mas tem que haver espaço para o erro, porque é muito normal que um jovem erre, assim como é muito normal que um adulto erre», afirma.
Ana Queirós é também dirigente do Corpo Nacional de Escutas, um movimento católico em que a parte espiritual é uma das seis áreas de desenvolvimento e progresso pessoal trabalhadas. A chefe considera que essa área é ainda o “parente pobre” do escutismo, no entanto considera que tem sido feito muito trabalho nesse sentido e que essa tendência tem vindo a diminuir. «Pelo menos no meu Agrupamento temos feito um esforço que tem dado frutos. E os jovens gostam de trabalhar essa parte, muito porque não encontram respostas noutros sítios», conta.
Enquanto jovem diz nunca se ter sentido «posta de parte» por causa da religião: «Tenho a sorte de o meu grupo de amigos ter feito comigo esta caminhada, e isso é muito bom», afirma. «Claro que tenho amigos que não são católicos, mas esses habituaram-se e hoje até brincam, dizem “lá vai ela para as beatices”», conta. No entanto, houve alturas em que foi mais difícil gerir os vários mundos: «Na altura da faculdade, o momento em que eu queria passar a dar mais de mim a Deus, era também o momento em que tinha as noites académicas e a Queima das Fitas. Nesses anos, a balança teve de ser muito bem equilibrada, era uma gestão quase diária», lembra. «Nunca deixei de viver nada por causa da fé, obviamente eu fui à Queima das Fitas e à Latada [festas académicas em Coimbra], no entanto comecei a viver as coisas de forma diferente, porque também eu estava diferente», adianta.
Uma bóia de salvação chamada fé
Para si, a frase feita que diz que “a fé move montanhas” faz todo o sentido e acredita que, se não fosse a relação que tem com Deus, «muitas montanhas» na sua vida teriam sido muito mais difíceis de ultrapassar: «Houve momentos em que teria entrado em colapso, se não tivesse a certeza de que Ele está sempre comigo e me ama», reitera.
Em fase de pandemia e confinamento social, muitas têm sido as iniciativas de vários párocos de manter a ligação com os seus fiéis através, sobretudo, dos meios à disposição na internet. Ana acredita que isso pode estar a «salvar» muita gente, «pessoas que estão em casa a desesperar porque perderam o emprego, famílias que estão 24 horas juntas e que não estavam habituadas a tal». «Li recentemente um estudo que dizia que as “igrejas online” estão a ter cada vez mais adesão e, nos Estados Unidos, algumas têm mais gente diariamente do que tinham na igreja física», conta.
Para Ana Queirós, Deus é companhia predileta em todos os momentos e garante que isso faz toda a diferença na sua vida.