Cátia Ferreira está emigrada na Islândia há três anos. Uma aventura que teria, previsivelmente, a duração de um ano naquele país e que deveria passar depois por outros, estendeu-se depois de Cátia se ter apaixonado pela ilha. Hoje, traz a Islândia a Portugal, através da sua página de Instagram.
Cátia Ferreira é natural de Viseu e, em setembro de 2018, mudou-se para Reiquiavique, a capital da Islândia. Na altura, trabalhava «numa agência de viagens há quatro anos, mas sentia que faltava qualquer coisa». Por isso, optou «por sair do país» para «sair da zona de conforto e tentar perceber o que faltava». A ideia inicial era ficar apenas por um ano, passando depois a outro país, para viver mais experiências, enquanto trabalhava e viajava. Porém, passaram três anos e Cátia continua na Islândia, um país que diz ter no coração.
Na altura, quando tomou a decisão e a comunicou à família, «eles não sabiam sequer precisar onde era a Islândia no mapa». «Sempre fui uma rapariga de cidades, já vivi no Reino Unido, gosto do movimento citadino e quando a minha família percebeu que ia para uma ilha, estranhou, foi do tipo: “Esta rapariga está tola”. Disse-lhes que vinha por um ano, pela experiência» e, apesar de saberem «o que têm em casa», «ficaram preocupados porque não tinha cá ninguém [conhecido]», revela Cátia.
A escolha do país é justificada pelo facto de não ser longe de Portugal, já que Cátia recuperava de uma intervenção cirúrgica e temia ter de regressar a qualquer momento, mas a jovem, agora com 30 anos, não queria «ir para um país típico onde sabia que ia encontrar imensos portugueses», como «França, Alemanha, Suíça, Luxemburgo ou Reino Unido». Na sua opinião, encontrar muitos portugueses faria com que se juntasse mais a essa comunidade e «não vivesse tanto a experiência de emigrante, de ir para um país completamente diferente. A Islândia tinha esse encanto: não conhecia ninguém, não tinha amigos ou família, nunca tinha visitado, era a aventura total», recorda. Hoje tem, no entanto, um «grupinho de amigos portugueses». «Os portugueses estão em todo o lado», brinca, referindo que são não ultrapassam os três ou quatro mil em toda a ilha, que tem cerca de 360 mil habitantes.
A chegada
«A adaptação foi relativamente fácil», afirma, considerando que tem alguma capacidade de ajuste e que mesmo o facto de ter ido perto do inverno, quando os dias chegam a ter apenas três horas de sol não a assustou: «Essa é também a piada de estar num país completamente diferente, tanto no inverno, como no verão, em que os dias são longos, com 24 horas de dia». Ser formada em Turismo e ter trabalhado sempre na área deu-lhe uma “bagagem” que também facilitou a sua chegada, sobretudo por ser fluente em inglês. «Claro que na Islândia a língua oficial é o islandês, mas toda a gente fala inglês, precisam da língua para falar com os turistas», conta. Quanto à língua local, Cátia revela que já consegue trocar pequenas conversas, «na caixa do supermercado ou chamar um táxi», «mas ir a um banco tratar de qualquer coisa, ainda não». «O islandês é super complicado», remata.
Ao fim do ano estipulado para estar na Islândia, Cátia optou por ficar: «Fiquei aqui confortável, não senti necessidade de me mudar», refere. O que a prendeu? «O próprio país, a qualidade de vida que aqui tenho e que não tinha em Portugal, perceber que os direitos dos trabalhadores são muito mais valorizados do que em Portugal…», adianta.
Turismo: paixão e profissão
Num país que vive essencialmente do turismo, Cátia trabalha num hotel, mas tem também um projeto pessoal ligado ao setor, o Meraki Iceland (que pode ser visto na página de Instagram com o mesmo nome). «Desenho itinerários personalizados para quem quer visitar a Islândia», explica.
O Meraki, uma palavra grega «que significa dar tudo de ti naquilo que fazes, pôr toda a dedicação e amor», já existia como blogue de viagens, «sem ser da Islândia». Cátia partilhava «as viagens que fazia em contexto de trabalho [uma vez que trabalhava numa agência que a “obrigava” a ir conhecer os destinos] ou de lazer» e as pessoas iam colocando questões, algo que ainda hoje acontece, mesmo já não sendo agente de viagens.
«O upgrade para Meraki Iceland» aconteceu depois de se mudar para a ilha, quando percebeu que «as pessoas estavam a gostar imenso de saber que havia uma portuguesa a viver na Islândia». «Parece que a Islândia se tornou mais fácil de chegar através de mim. Acabei por desmistificar a ideia de que é um país só de neve e gelo, o que não é verdade», refere. Depois, com a chegada da pandemia e com a limitação das viagens para fora do país, o «alinhamento das estrelas» fez com que começasse a viajar mais na ilha, a fazer mais partilhas e a ver o projeto crescer, assim como a comunidade que em torno dele se gerou.
Das pessoas que a seguem na rede social, algumas passaram a ser suas amigas e outras, aquando da visita à Islândia, fizeram questão de a conhecer. «As redes sociais facilitam e tornam tudo mais próximo. Eu tornei a Islândia mais próxima das pessoas, mesmo à distância. Ajudo as pessoas a viajar enquanto estão no sofá», considera. Um outro ponto diferenciador para o público português é o facto de ajudar as pessoas na sua própria língua: «É completamente diferente estar a falar com alguém que vive cá, mas em inglês, sendo eu portuguesa, a falar em português, ajuda na comunicação e as pessoas sentem-se mais confortáveis e confiantes para virem», sublinha.
Confessa que, em altura de pandemia, tendo o turismo sido um dos setores mais colocados em risco, pôs tudo em perspetiva e pensou mesmo se deveria explorar outras opções. Todavia, agora com a «vida a voltar um pouco ao normal», sabe que é este o seu caminho: «O turismo está sempre no meu coração».
Regresso às origens?
A Portugal regressa uma vez por ano, «duas, quando dá». Não é da sua personalidade querer vir muitas vezes, embora reconheça que as ligações aéreas também não o facilitam, já que para chegar precisa de «um dia inteiro». Ter cá a família e os amigos é o que a deixa «com o coração mais apertado», mas afirma que Portugal não é o país onde se imagina a viver, «pelo menos durante o tempo de vida profissional».
Sem saber onde será o seu futuro, acha que ganhou características que a tornam «um bocadinho islandesa, embora nunca o vá ser». «Sou portuguesa, emigrada, mas também sou do mundo. Estou na Islândia e para agora estou bem, mas daqui a uns tempos, se calhar, sinto que quero tentar algo diferente», conta ao Populus.
Afirma não fazer projetos a longo prazo e por isso estabelece apenas que, de futuro, quer «fazer crescer o Meraki», «continuar a fazer estes itinerários e passar a uma fase» em que será também «a tour líder das viagens na Islândia». Com alguns projetos em vista, que não quer para já revelar, diz que não consegue «definir nada em específico» e que «está tudo ainda um bocadinho em névoa», porém adiantou que, nos próximos tempos, continuará a ter como casa a Islândia.