Soraia Cardoso: O seu fado é o fado!

Escrito por

Catarina Correia Martins
12 Novembro 2020

Soraia Cardoso é um nome familiar? Para quem gosta de música e acompanha os programas de talento, certamente que sim. Foi no The Voice Portugal que se deu a conhecer, mas já antes disso dava cartas no fado que, para si, é «como que um respirar».

Os concursos que a lançaram

O gosto pela música conhece-o desde cedo. «A partir do 6.º ou 7.º ano, comecei a cantar nos eventos escolares e, como frequentava a catequese, cantava também na missa. As pessoas gostavam de me ouvir, era afinadinha, só que sempre fui um pouco insegura», lembra. A coragem para subir a um palco chegou há cerca de seis anos quando decidiu participar num concurso local, A Voz de Condeixa. Natural de Alcouce, no concelho de Condeixa-a-Nova, foi em “casa” que se estreou. «Cheguei à final, mas não ganhei. No entanto, recebi um convite para fazer parte de um grupo de fados amador, porque tinham achado o meu timbre interessante para fado, e aceitei», conta. Um ano “na estrada” deu-lhe a confiança de que precisava para, no ano seguinte, voltar a candidatar-se e, desta vez, para ganhar… Com fado!

Considera que não escolheu o seu estilo musical, mas sim que ele veio até si. «Comecei a cantar música ligeira, pop, música estrangeira, em inglês, mas sempre preferi cantar em português, não sei o motivo, mas sentia mais as palavras, era isso que me preenchia a cantar. Com as pesquisas que fiz para escolher o repertório para levar a esse concurso, fui ao encontro do fado-canção, e depois foi tudo muito natural», explica.

Em 2018, chega ao palco do The Voice e foi mais uma vez com o fado que arrebatou o coração dos mentores. Tens os olhos de Deus, de Ana Moura, foi o tema que escolheu para a “prova cega” e que levou Marisa Liz a confundi-la, pela voz, com a intérprete original. Já havia participado, no ano anterior, não tendo passado dos castings. Quando em 2018 ganhou coragem para voltar a concorrer, diz ter vivido «totalmente o oposto»: «Consegui chegar à final e fiquei em terceiro lugar», recorda.

Dessa experiência recorda as pessoas que conheceu e os amigos que fez, mas não só: «Aprendi muito, evoluí muito e levei ali “uma carga” do que é estar em televisão, trabalhar sob pressão, o estar mais à vontade, ganhei confiança», aponta. No entanto, considera não ter «aproveitado como devia», por ser a sua «primeira experiência em televisão», por estar a estudar em Coimbra e os estúdios serem na Venda do Pinheiro, em Lisboa, e porque se deixou «levar pelos nervos». Todavia, considera que esta «é uma experiência que fica para a vida».

O pós The Voice

Mas que portas abrem estes programas a quem os não vence? «No primeiro ano que se seguiu à minha participação, tive muito trabalho. Foi uma plataforma brutal», revela. Na sua perspetiva, foi também graças ao The Voice, que começou a «fazer isto de uma forma profissional». Conseguiu concretizar uma das suas ambições: ganhar contactos em Lisboa que a ajudassem a começar a traçar o seu caminho na capital, nas casas de fado, onde «estão as pessoas que sabem e que trazem as raízes do fado de há muitos anos, que aprenderam com os antigos e que ensinam agora aos novos».

Não fosse a COVID-19 e ainda lá estaria… Ao terminar a sua licenciatura em Gerontologia Social, foi na Casa do Artista que fez o estágio curricular. «Gerontologia é uma ciência que estuda o processo de envelhecimento, a velhice e tudo o que engloba o idoso, nas suas perspetivas biológica, psicológica e social», explica. A Casa do Artista, «um lar, em Carnide (Lisboa), onde estão os idosos que foram artistas, alguns deles famosos», foi juntar o “melhor de dois mundos”. «Foi muito bom», afirma, e não lhe é difícil apontar uma das pessoas com quem mais gostou de privar, Anita Guerreiro, atriz e fadista. «Privei com ela, e com outros, felizmente tive essa sorte», frisa.

Por culpa da chegada da pandemia ao país, viu o seu estágio ser abruptamente cancelado e, a par disso, terminou a sua estadia em Lisboa. «Finalmente estava a conseguir aquilo que queria, ainda por cima com o meu mérito e trabalho… Comecei a cantar em algumas casas de fado, estava a aparecer, as pessoas já me conheciam, já me iam chamando. De repente acontece isto e acabou tudo», conta, com tristeza. Soraia Cardoso revela que toda a situação a tem deixado «bastante frustrada e triste» e confessa que não tem «arranjado forma de lidar» com a paragem: «Gravei umas coisinhas que publiquei no Instagram, mas não é, de todo, a mesma coisa. Estava habituada a muito trabalho, muito movimento. Então, para não dar em doida, fui arranjar outro trabalho. Neste momento estou a trabalhar num restaurante, para ganhar algum dinheiro e para me ir mantendo ocupada», conta.

Sabe que a música, o fado em particular, é parte de si, «sempre soube», mas agora, em “pausa” diz ter uma maior noção disso. «Este é o meu caminho e vai ser isto que eu vou fazer, é o que eu quero. Preciso disto para viver com satisfação, alento e felicidade», descreve. Na sua opinião, é por isto que os artistas o são, apesar da instabilidade da profissão: «Precisam de produzir, de ser criativos e de viver disto…», afirma.

Deixe aqui a sua mensagem

Outros posts

Joana Cunha: O bom e o mau da maternidade

Joana Cunha: O bom e o mau da maternidade

Foi no início de maio que “A Mãe Joana” viu a luz do dia. Os textos que retratam a experiência da maternidade de Joana Cunha chegaram finalmente ao público, depois de cinco anos guardados na gaveta.

Elsa Lopes: Viver com lúpus

Elsa Lopes: Viver com lúpus

Elsa Lopes tem 34 anos e há cinco descobriu que tem lúpus, uma doença crónica que lhe mudou as rotinas e o aspeto físico. Hoje, diz-se uma mulher «feliz, dentro das limitações».