Ana Patrícia, de 24 anos, é enfermeira numa Urgência Geral de um Hospital Central em Lisboa e, hoje, conta-nos a sua história e o que é trabalhar em plena pandemia de COVID-19, depois de terminar a licenciatura na Escola Superior de Saúde da Guarda.
Sucesso profissional como prioridade
«Determinada, ambiciosa e lutadora» é assim que Ana se apresenta ao Populus e a tudo a que se propõe na vida. Nascida numa pequena aldeia do interior, perto da cidade de Tondela, desde bem cedo que se comprometeu que a concretização profissional seria, para si, um dos maiores objetivos: «Desde muito pequena que tive o sonho de atingir um patamar na vida onde me sentisse concretizada. Sempre pensei muito, a nível profissional como seria. Aquelas perspectivas do “como te vês daqui a 5/10 anos?”, pois bem, tinha sempre resposta na ponta da língua. Evoluí bastante e tive uma ótima educação dos meus pais – confesso que um pouco conservadora mas fez de mim quem sou hoje. Sinto que estou em constante evolução. Em todas as vertentes da vida», conta.
Capital como centro de oportunidades
Embora não dispense uma «mesa rodeada de amizades, boas conversas e muitos risos», Ana admite ser um «bocadinho workaholic». Terminada a licenciatura em Enfermagem a questão seria onde exercer a profissão. Lisboa foi o destino escolhido e «por enquanto» não pensa em mudar-se: «Lisboa é capital. É um mundo de oportunidades. Fui [para Lisboa] por ter imensas portas abertas para começar uma carreira na Enfermagem. Sinto-me estável e não penso em mudar-me tão cedo», sublinha.
Trabalhar em pandemia
Como determinada que é, Ana admite enfrentar a pandemia de «mangas arregaçadas». Embora, por um lado, a reconhecer que toda a situação lhe provoca algum receio, por outro, é aí que se ganha a coragem para lutar contra o vírus. E explica como: «Se disser que não tenho medo, estarei a mentir. Tenho medo por mim, pela minha família e pelas pessoas que me rodeiam. Mas viver com medo faz parte. Ajuda-nos a ganhar coragem, a enfrentar. E é isso que faço, todos os dias».
Com constantes adaptações na forma de trabalhar, a luta contra o novo coronavírus está agora mais acertada. A corroborar as informações da Direção-Geral da Saúde (DGS), Ana admite que o controlo de casos, a sua identificação e tratamento se deve à transformação «relâmpago» dos serviços de saúde: «O “meu” serviço mudou de uma forma rápida e organizada para aquilo que se espera em pouco tempo. Fiquei muito orgulhosa na capacidade de adaptação, sou sincera. Todos os dias acertamos pormenores de forma a conseguir prestar os melhores cuidados e, claro, de forma segura para nós e para os outros. Temos de nos proteger para conseguir proteger quem cuidamos”, e prossegue: «Trabalho numa urgência geral. Recebo todo o tipo de situações, pessoas, diagnósticos… Como é um serviço de primeira linha, não sabemos se a pessoa que temos à nossa frente é positiva ou não. Mas isto passa-se com a COVID-19 e com todas as doenças que ainda existem. É um serviço complexo. Muito exigente. Mas estou rodeada de excelentes profissionais, pessoas que admiro. Ajuda bastante ter um ambiente saudável no trabalho».
Futuro e reconhecimento de uma classe
Descarta a ideia de ter uma missão nas mãos para, sim, ter uma «responsabilidade» na prestação de serviços que permitam aos utentes «melhorar, de certa forma, a qualidade de vida. Prestar os melhores cuidados, de uma forma empática».
Não perspetiva uma cura imediata para a COVID-19 e reconhece que «o vírus vai ficar, assim como várias doenças que surgiram ao longo dos séculos» mas que todos devem seguir as recomendações da DGS sendo a entidade que «representa» e que merece respeito de todos: «Não viveremos atormentados, viveremos adaptados. Viveremos com meios que nos permitam adaptar o nosso quotidiano a esta adversidade que cruzou o nosso caminho», acredita.
A lutar na linha de frente desde o início vê e sente a falta de reconhecimento do trabalho feito por si e por todos os profissionais de saúde no longo combate à pandemia onde não perspetiva qualquer mudança nesse hábito: «Infelizmente o setor da saúde não tem o devido valor nem o reconhecimento que merece. Nem ontem, nem hoje… e prevejo que, infelizmente, nem amanhã».